Luísa Neto Jorge escreve no poema Magnólia —
“A exaltação do mínimo
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu resplendor”
Herberto Hélder escreve no fim da vida —
“paixão pela paixão, tinha?”
E então indagamos de nós,
temos paixão?
Sim — na criação e transposição de quaisquer limites
Animais de longo porte extinguem-se na terra, e nós? A mão aprende o que compreende cria com a firme determinação de desalojar a violência
E a beleza disto tudo? a mesma voragem pela fruta do mundo
pode manter-se a paixão? Pode esta ser paz? bebemos água vezes água vezes água do mundo - the edge is water plus water plus water
Uma existência livre de abolir ou mesmo remunerar
na precisão aterra o amor infindável
ilimitada
gostaríamos de criar, algo que ainda não existe
Repousar o mundo
Pousar novamente
A humana natureza animal inimiga de si própria cega de si própria
the edge
como esta poeta cega que vive sobretudo nos canaviais a criar flautas
the edge
Um museu de pulgas atómicas
the edge
Museu-Circo
A lua do cão o sol de um girassol de estafetas e o oxigénio a arder
the edge
Do mundo
E no mundo, parecemos mortais, mas ninguém nos viu a não ser vivos
Vivas
que o dia vos seja feliz de acordar de acontecer a corda desta exposição
Diálogo
– António Poppe