Diogo Bolota, vista de exposição, 2025

Diogo Bolota, Gonçalo Pena
Avenida 211

Group Exhibition
Inauguração | Opening 24.10.25   

MAC-CCB, Lisboa

24.10 - 05.04.2026

Será possível imaginar um edifício de uma das zonas mais valorizadas de Lisboa totalmente ocupado por artistas? Entre 2006 e 2014, esta singularidade teve lugar no n.º 211 da Avenida da Liberdade, que, segundo aqueles que foram os seus inquilinos-artistas, curadores e visitantes frequentes, albergou uma experiência irrepetível no panorama da arte contemporânea da cidade.

Durante quase uma década, os quatro andares do edifício (propriedade do Banco Espírito Santo, fundado em 1869 e colapsado em 2014) acolheram várias dezenas de artistas, músicos e projetos curatoriais. A ocupação era gratuita e temporária, e assegurava condições de autonomia e flexibilidade que escapavam tanto aos modelos institucionais quanto às lógicas comerciais.

A história desta ocupação simultaneamente vital e vulnerável permite compreender o contexto cultural português, mas também o ciclo de crises e transformações económicas e políticas que atravessou o país e a Europa no início do século XXI. A crise financeira global de 2008–2009 e a Troika formada para implementar assistência económica entre 2011 e 2014 tiveram um forte impacto na cena artística através da imposição de cortes severos, implicando uma reconfiguração da política cultural e um agravamento das condições de habitação e trabalho. No mesmo período, as dificuldades económicas alimentaram também o surgimento de movimentos sociais, gerando manifestações de protesto que passaram pela Avenida da Liberdade, em Lisboa.

Ao longo de um processo que culminou na atual «financeirização das cidades», redefiniu-se a própria possibilidade de existência de comunidades artísticas no coração dos centros metropolitanos. Neste contexto adverso, a Avenida 211 foi como que uma dobra: um espaço onde se geraram novas formas de ação, conhecimento e experiência coletiva. Quando chegou ao fim, a cidade não era mais a mesma.

Esta exposição nasce da recolha e sistematização dos testemunhos e materiais dos artistas residentes. Construída como «arquivo vivo», reúne obras e fragmentos que remetem para exposições, colaborações e situações concretas. Não se propõe reconstituir vivências únicas, antes tornando visíveis os fluxos e conexões entre práticas, linguagens e artistas, assim como as colaborações entre gerações. A rede de confiança e de autogestão na base desta aventura teve um parceiro fundamental em António Bolota, engenheiro civil e artista já envolvido em projetos artísticos sem fins lucrativos.

Por outro lado, esta investigação revelou que a experiência da Avenida 211 ocorreu durante um período de transição, mesmo do ponto de vista tecnológico: do papel para o digital. Se se preservou pouco material em papel, também foi difícil recuperar parte do material digital, armazenado em discos rígidos antigos. Este é outro elemento que atesta a natureza espontânea e genuína da experiência, desprovida de qualquer intenção de autocelebração.

O percurso das salas é orientado por cinco possíveis sentidos da Avenida 211 que surgiram em diálogo com os artistas e na exploração do material: «Um espelho retrovisor», «Um atelier só para si», «Uma caixa de ressonância», «Um farol», «Do-It-Ourselves». Com esta organização, pretende-se apresentar não um passado congelado, mas sim uma rede viva de experiências, fluxos e intensidades que ainda inspira e interroga o presente.

Curadoria | Curated by: Nuria Enguita e Marta Mestre

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